DEPUTADA AO PARLAMENTO EUROPEU

EUROPA COM CORAÇÃO

Vitalidade do mundo rural é essencial à luta pela resiliência climática!

A Europa vive uma situação dramática de seca que de acordo com a comunidade científica, pode bem ser a pior dos últimos 500 anos. Persistência de temperaturas elevadas e escassez de chuvas durante longos períodos, tornam cada vez mais frequente a seca severa e até a seca extrema, criando-se assim as condições para a tempestade perfeita dos incêndios. Todo Sul da Europa, desde a Grécia a França, e em que Portugal claramente se inclui, conhece bem esta realidade. Realidade que começa agora também a chegar com intensidade a países como a Alemanha, a Eslovénia, a República Checa e a Hungria, marcados por grandes fogos florestais neste verão. No caso português, há ainda que sublinhar que enfrentamos hoje a segunda pior campanha cerealífera desde que há registos no nosso país, a que se juntam quebras elevadas na produção de fruta, no desenvolvimento dos pastos e na produção de forragens. Em paralelo, noutras geografias do mundo, milhares de pessoas morrem vítimas de inundações. Basta olhar para a recente tragédia do Paquistão e que levou aliás o Secretário Geral das Nações Unidades, António Guterres, a utilizar a expressão ‘carnificina climática’. Os extremos são cada vez mais intensos e evidenciam de forma crua, cruel e factual as alterações climáticas.

 

No Parlamento Europeu estamos conscientes da gravidade destes cenários e da necessidade urgente de implementar medidas concretas que ajudem as nossas populações a enfrentar as adversidades das alterações climáticas. Por essa razão, apresentamos em plenário reunido em Estrasburgo uma resolução sobre as consequências da seca, dos incêndios e de outros fenómenos meteorológicos extremos na Europa. À hora a que escrevo ainda não ocorre a votação, mas estou certa de que reunirá um consenso muito alargado. O texto final da Resolução, negociado e assinado por todos os grupos políticos com exceção da extrema direita, conta com vários contributos do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas. Um deles prende-se com o apelo à Comissão Europeia para que identifique com urgência todos os recursos financeiros que possam estar disponíveis e que possam ser rapidamente mobilizados para ajudar as explorações agrícolas, compensando os nossos agricultores das perdas resultantes dos danos causados pela seca, pelos incêndios florestais ou outros fenómenos também cada vez mais frequentes como tempestades e cheias, e que os possam também ajudar a construir desde já maior resiliência climática das explorações agrícolas na Europa.

 

Acredito em absoluto que qualquer luta pela mitigação das alterações climáticas tem de passar por fortes investimentos em planos de revitalização do meio rural, de apoio à bioeconomia, e de pagamento justo aos importantes serviços ecossistémicos. Dito de outro modo, acredito que a verdadeira luta preventiva contra os incêndios começa muito lá atrás, começa na luta contra o despovoamento do nosso mundo rural. Para tal, é imprescindível um reforço das políticas de combate ao despovoamento rural, para evitar o abandono das terras agrícolas e dos seus usos tradicionais (como são as culturas de sequeiro, o pastoreio extensivo e a silvicultura). Tive a este propósito a oportunidade de reforçar esta ideia na minha intervenção em plenário, no debate de quarta feira sobre coesão territorial. Como referi, é preciso que a visão a longo prazo para as zonas rurais se transforme numa verdadeira estratégia rural europeia, a ser plenamente integrada nos futuros períodos de programação e acompanhada por estratégias rurais nacionais. Uma União Europeia que não deixa ninguém para trás, não pode esquecer o seu mundo rural. Tem de estar lá para o apoiar, pois como frisei, só assim se promove o verdadeiro espírito de solidariedade europeia.